Roubas o apelido ao velho senhor das palavras pomposas
e sorris com aquele ar de criança marota.
Como se não soubesses que eu mato meio mundo
só para te ver sorrir assim.
Deitas-te numa cama que é tão tua
como as letras que vasculhaste no dicionário de um outro vizinho
desconhecido.
E mostras-me uma casa estéril, com apenas um piano solitário
a um canto.
Saem melodiosas notas soltas e, contudo, não vejo vivalma.
É assim o mundo que me ofereces nas madrugadas frias, deste
outono acabado de chegar.
És todo um conjunto de contra-sensos que mais não são que
melodias sem ré nem dó.
E já nem consigo ter pena,
das brincadeiras que tínhamos quando eras tu.
Quando te chamava pelo nome. Que era teu.
Roubas um nome. Vives noutra pessoa. E crias silêncios
farfalhudos no jardim lá de casa.
Não me deixas reconhecer uma réstia do passado.
Pois - para ti - tudo tem de ser religiosamente novo.
Queres fazer do nosso Hoje
um Nosso Senhor apresentável.
Mesmo ao jeito do Jornal das 8.
Queres um presente
feito eterno.
Um agora
tornado até amanha. E depois.
Tu as oublié que ton
nom porte de sons, couleurs et aromes d’une autre vie.
E sabes que não é adolescente
o mundo que me mostras,
é apenas mais uma música requentada
nesse teu vinil de 37 rotações.
Tantas como os anos que nos separam.
Gregor Samsa, Pseudonyms
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