
Nem sei por onde começar a escrever sobre um concerto onde se passou de tudo um pouco. Espectáculo ou circo serão bons termos para ilustrar o que se viveu ontem no Pavilhão Atlântico, que recebeu os Green Day. Mas comecemos pela introdução necessária: nove anos volvidos desde a primeira aparição dos Green Day em Lisboa, no Coliseu e depois da incumprida promessa que voltariam em breve, eis que chegam com toda a carga, prontos para deslumbrar e wow us.
Depois de uma primeira parte dos Primma Donna que serviu para atiçar a massa adolescente presente no pavilhão, os Green Day entraram em palco a matar com “Know Your Enemy”, o single do último trabalho, e que deixou a multidão em histeria total. O barulho era ensurdecedor e as explosões pirotécnicas ajudavam à festa, e muito! As cartas estavam lançadas para um concerto que prometia ser mesmo de arromba. A comunicação com o público foi desde logo estabelecida e bem concretizada quando Billie Joe começou a escolher aleatoriamente pessoas do público para subir ao palco. Empurrões, cotoveladas, pontapés... tudo valia para ser o escolhido para subir lá acima e dar um abraço ao ídolo. O espectáculo era total e tudo servia para agarrar o público que se entregou de alma e coração aos estímulos da banda, desde as imagens que iam passando, até à simpatia e energia de Armstrong, passando pelas explosões e os stage-divings proporcionados aos fãs para os expulsar de palco (foram vários). Era todo um circo pensado para não acalmar o mar de gente que enchia a plateia.
O primeiro momento arrepiante foi em “Boulevard of Broken Dreams” quando o vocalista se calou por ter ficado extasiado com a potência vocal dos milhares de fãs devotos. Billie Joe não conseguiu conter o I Love You no fim da canção, claramente emocionado com o carinho. Seguiu-se a viagem a 1994 para relembrar os temas do velhinho Dookie, o responsável por lançar os Green Day no mainstream. Reviveram-se as velhas rodinhas de mosh em “Welcome to Paradise”, “Longview” foi cantada na íntegra por um fã puxado da plateia, que se apresentou muito à vontade em palco sabendo a letra inteira, meio tremida, claro está! A multidão entrou em delírio com o “Basket Case” que, tal como no álbum, antecedeu o “She”. Ao fim de uma hora de concerto, Armstrong achou que estava na hora do cooling down e resolveu sacar das pistolas de água e dar banho aos fãs fervorosos das filas da frente, mas não faltou o papel higiénico a seguir e ainda disparos de t-shirts, não fossem eles constiparem-se!
Depois do descanso dos fãs, o descanso dos guerreiros, que, deitados no chão homenagearam alguns dos principais inspiradores da banda. Um pequeno medley onde incluiram “Break on through to the Other Side” dos Doors e “Satisfaction” dos Rolling Stones. Voltando à carga com “Minority” aproximava-se o momento que nos encheu de orgulho que foi ouvir o líder da banda a gritar You are so much better than the americans. Sabemos que não é difícil, mas nunca ninguém tinha sido tão frontal e soube bem ouvir!
O primeiro encore deu-se ao som de ”American Idiot”, mesmo a calhar depois daquela frase que foi seguida pelo casting à procura de um guitarrista para “Jesus of Suburbia”. O jovem fã lá subiu ao placo, traçou sobre o peito a guitarra de Billie Joe e tocou a música inteira, aliviando o vocalista dessa tarefa. Provavelmente presenciámos um momento de viragem na vida daquele miúdo que, qualquer dia forma uma banda inspirada nos Green Day!
O concerto aproximava-se do fim inesperado porque a promessa, mais uma não cumprida, era de 3 horas de concerto. Billie Joe desapareceu do palco depois de cantar “Last Night on Earth” e o sentido “Good Riddance (Time of your life)”. Enquanto todos esperavam a volta para as perdidas “When I Come Around” e “ Wake Me Up Before September Ends” as luzes acendem e passam estas a ser as ausências da noite.
Há que se lhes tirar o chapéu. São muito bons ao vivo, sabem quem têm à frente e sabem como divirti-los e tirar disso o maior partido. Nove anos fizeram a diferença, cresceram, amadureceram, passaram por uma fase menos boa mas provaram ontem à noite que estão a viver um novo ciclo, e bem positivo.
Não posso deixar de salientar, uma vez mais a péssima qualidade de som do Pavilhão Atlântico que já não é novidade para ninguém, mas é que chateia muito. É mau, mesmo mau.
Ah... e também é impagável ouvir a minha sobrinha dizer “Obrigada tia, foi a melhor prenda de todas. Foi o concerto da minha vida”. Não tens que agradecer e ainda vais ter muuuuitos mais, comigo espero!