Um pé de fora, que serve de termóstato corporal, o regresso da puta da melga que toda a noite zuniu ao meu ouvido, um gosto a papel de música no céu-da-boca. Foda-se já não se dorme nesta casa a partir das 10:00. Tiros de luz irrompem pela madeira empenada das portadas rústicas e sons de cortadores de relva enchem o ar quente lá fora.
Preciso de água fresca e de um café. Tacteio a envolvente à procura de algo familiar e demoro o meu tempo a identificar os calções de banho ainda húmidos e tesos do sal da noite anterior, visto-os ainda deitado e tento lembrar-me onde vi os óculos escuros pela última vez. Assumida a posição semi-vertical, olho em volta, quase ouvindo o som do auto-focus enramelado e ainda em 16:9, à procura de alguma coisa que me faça falta.
O frigorífico está cheio, eu também, de vómitos. Aguinha fresquinha, directamente do jarro entornando mais do que bebo, mas apesar do efeito desagradável à vista nos calções de banho sabe-me bem o único duche matinal. A porta e o calor tornam-se na última barreira a transpor. Os fones, caralho, será que têm bateria, caguei, deve dar para chegar à praia. Baixinho, escolho um som bem disposto, algo com ginga, tropical, com cheiro a fruta fresca, que me ajude a fumar o primeiro cigarro do dia, aquele que custa, mesmo antes do café.
The Aggrolites, Free Time
1 comment:
Muito bom, PWFH.
Com som, o teu texto, já de si soberbo, ganha outro sabor :)
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