Wednesday, September 21, 2011

Cartas do Anónimo


A comédia de Deus, que por aproximação a poderia ter escrito João de Deus, ou um outro poeta qualquer chamado João, ou Fernando, sem história marcada, de escrita fina, seria o riso do próprio Deus ao olhar-se reflectido num dos homens que ele criou. Um daqueles homens quase divinos, que ensinam bem demais coisas que nunca lhes foram ensinadas. Diz-se que é deles, com eles renasceu e o trazem de outras vidas. Mas até esses homens especiais falham. E riem-se das asneiras que de quando em quando elaboram. Esse sorrir conhecedor, mas que por uma ligeira distração de olhos, aperta o parafuso errado no sítio certo. A cabeça manda e as vontades desmandam. E por cima, reflectido nos cabelos brancos prateados de um desses homens especiais, Deus. Confrontado com a sua obra e o livre arbítrio. Uma comédia cómica e trágica, sustida pela perfeição e empurrada pelo impulso. E Deus voltará a sorrir ao pensar que o que quis nunca vai acontecer. Uma comédia cómica e trágica...

Maxence Cyrin, Where Is My Mind

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