Wednesday, June 1, 2011

Discóbolo


Inevitável? Sim, sem dúvida. "Unknown Plesaures" é um álbum nuclear na história da música moderna. A carga criativa do primeiro trabalho dos Joy Division é tão arrebatadora, que é quase impossível não constar nas mais diversas listagens dos demais blogs e revistas da especialidade. Eu confesso que as primeiras vezes que ouvi este disco (em cassete), acabei a audição sempre com mesma sensação de estranha despersonalização. Perdido entre a incógnita e a surpresa, foram precisas algumas semanas até que eu pudesse começar a adivinhar qual era a música que se seguia. Sem lado A nem lado B, o disco vinil dos ingleses que se tornaram talvez na banda mais emblemática do período pós-punk da década de 80, conquistou infindáveis dorsais, frentes de t-shirts, bandeiras, capas de dossiers e cadernos de escola. "Unknown Plesaures" não era só música. Era um manifesto de reconquista do espaço público. A juventude irreverente, mas também intelectual, dos anos 80, rendia-se por inteiro ao charme obscuro da banda mais indecifrável da actualidade. As letras, a atmosfera, as vocalizações de Ian Curtis e os arranjos visionários de Bernard Sumner galoparam em todos os sentidos. Mas foi graças a Martin Hannett que o primeiro disco dos Joy Division ganhou aquela dimensão astral. A banda ficou um pouco decepcionada com o resultado da gravação. Diziam que não ilustrava com rigor o lado mais agressivo deles, visível nas actuações ao vivo. Mas passados uns tempos, vieram reconhecer que a ajuda na produção de Martin moldou para sempre o som dos Joy Division. E quando um resultado é execepcional, é natural que a equipa envolvida seja também de qualidade exorbitante. Estou a falar concrectamente de Peter Saville. Foi ele que "desenhou" a capa do disco e que depois ficou encarregue de continuar a tratar dos "rostos" dos registos seguintes. A imagem escolhida para este álbum foi a de um pulsar: emissão de um forte campo magnético que as estrelas emitem ao entrar em colapso. Disorder? Não sei, talvez. Fica a clara sensação que a banda quis explorar uma zona cinzenta da natureza humana. O espaço que é visto de longe e que não se tem a certeza do que afinal representa no nosso quotidiano. "Unknown Plesaures" é, indiscutivelmente, por direito e mérito, uma transmissão que nunca se perderá, registada que está nas enciclopédias da ciência moderna e nos dorsos adolescentes que ainda a ostentam de alma e coração...

Joy Division, Disorder

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