Wednesday, May 18, 2011

Cartas do Anónimo


Nós, que andamos nas cidades, temos um ritmo. Um tempo de pressa, urgência. Nada parece duradouro. Ou porque vai acabar amanhã, ou porque só há hoje. Nem sei bem se, por vezes, o que está em cima das nossas pernas somos nós, conscientes. Só paramos se formos obrigados, e nunca por nossa vontade. É um ritmo doente, de desgaste rápido, que nos vai desbastando até não aguentarmos mais. E se umas escadas rolantes estiverem paradas (as escadas rolantes, esse símbolo magnânimo da velocidade elevada ao menor esforço), aí parece ser o cérebro a desacelerar. As nossas pernas quase que param. Recusam-se a descer umas escadas que deviam estar a rolar, para abreviar a nossa chegada ao próximo destino. O corpo, bem ensinado, tenta obedecer à mente. Perde-se a lógica do movimento desatinado e ininterrupto. Perde-se a velocidade. De repente, como um cavalo que parte uma pata, sentimo-nos estranhos. Fracos e sem alternativa para podermos manter o ritmo da cidade. Não há tempo para as escadas pensarem nos seus problemas.


Memory Tapes, Wait In The Dark

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