Tuesday, February 1, 2011

Discóbolo

Prometido é devido. E eis que estreia, ainda ao primeiro dia do mês, a nova rubrica do Xukebox. O Discóbolo. Os discos que fazem história. Que marcaram o curso da história da música moderna para sempre. E para começar...


Steve McQueen dos Prefab Sprout. É isso mesmo. Razão? Nenhuma em particular. Só por dizer que faz parte da discoteca de muitas prateleiras por esse mundo fora. Especialmente na Europa. Isto porque no mercado americano o título do disco teve que ser alterado por problemas com a família do actor já falecido para "Two Wheels Good", inspirado no livro "1984" de George Orwell. Mas antes de mais vamos lá ver um bocadinho da origem da banda.

Patrick (Paddy) McAloon, vocalista e fundador da banda, nasceu em Dulham, Inglaterra, no dia 7 de junho de 1957. Enquanto miúdo frequentou a Catholic Seminary College, em Ushaw. Embora talentoso, era um aluno relapso que não sonhava propriamente em seguir uma carreira académica. Desde pequeno mostrou uma forte aptidão para compor e tocar guitarra e em 1974 formou sua primeira banda, Avalon, com mais quatro amigos. A experiência durou apenas um ano e no ano seguinte entrou para a escola Politécnica de Newcastle ficando lá até 1978. Para ganhar algum dinheiro, trabalhava com seu irmão Martin na oficina do pai. Mesmo assim, a música não foi abandonada e nesse período forma os Prefab Sprout com seu irmão Martin no baixo e Michael Salmon na bateria. O nome fora inventado quando Paddy tinha apenas 14 anos . “A idéia era parecer-se com grupos que tinham nomes estranhos como os T. Rex, Moby Grape ou Grand Funk Railroad". Ao invés de regravar clássicos como fazia com os Avalon, Paddy começou a trabalhar em material próprio. No começo de 1980, entra Wendy Smith na banda. Era namorada do guitarrista John Sunter, que tocava nos Instant Bop, um grupo conhecido e com quem tocaram várias vezes em conjunto.

Dois anos de trabalho árduo e os Prefab Sprout montam a sua própria editora, Candle, lançando as canções "Lions in My Own Garden, Exit Someone" e "Radio Love". Em Setembro de 1982, a banda grava "The Devil Has All the Best Tunes" and "Walk On". Feona Atwood junta-se a Wendy nos backing vocals. O grupo começa a fazer sucesso em Newcastle e é convidado por Keith Armstrong, gerente da cadeia de discos HMV local, para assinar pela Kitchenware Records. Em Março de 1983, o compacto inaugural “Lions.../Radio Love” é relançado pela nova editora. Depois de alguns concertos por Inglaterra o grupo começa a conquistar notoriedade e Armstrong leva uma demo para a CBS que se interessa pelo som do grupo. Acabam por assinar um contrato para oito álbuns, deixando para a Kithcenware a missão de empresários dos Prefab. A CBS ficaria com a responsabilidade de distribuir os discos. Animado, o grupo volta aos palcos, sendo banda de abertura para Elvis Costello. Paddy e Elvis acabariam por se tornar grandes amigos. Em Março de 1984 é lançado Swoon, o primeiro longa duração da banda, e partem para uma série de apresentações por toda a Europa.

Mas é definitivamente com Steve McQueen que os Prefab Sprout rompem a barreira do som. Com Kevin Armstrong na guitarra, Michael Graves nos teclados e Neil Conti na bateria o álbum é lançado em Junho de 1985. Para a produção é convidado um jovem produtor talentoso chamado Thomas Dolby. E a presença deste "rapaz" na elaboração deste disco não passou despercebida. Em Inglaterra o disco é saudado pela crítica e pelo público como um dos melhores lançamentos de 1985 e explode nos tops com o single “When Love Breaks Down”, canção que mudaria ad eternum a imagem de Paddy. "Fui chamado de cantor romântico por outras bandas mais folk. Ok, eu gosto de Steely Dan e tenho alguns discos dele, mas prefiro de longe Led Zeppelin e sobre isso nunca ninguém me pergunta nada"...
Paddy explica que tocou quase todas as guitarras em Steve McQueen, apesar de ter recrutado Kevin Armstrong para o instrumento: “Eu costumo tocar porque escrevo as canções. Mas nunca fico satisfeito com o resultado, pois não sou tão talentoso como gostaria. A minha evolução como guitarrista é muito lenta e limitada. Preciso de trabalhar muito durante várias horas para tocar secções mais elaboradas".

Ciente das suas limitações, Paddy resolveu pedir ajuda a Thomas Dolby: “Foi um pouco complicado trabalhar com ele. Eu dizia-lhe que tinha a canção pronta e que faltava apenas tocá-la e gravá-la. Ele concordava comigo, mas dizia que devíamos melhorá-la, o que era complicado para mim. E como eu era um aluno lento no estúdio, tinha grandes crises de depressão".
Apesar dos problemas, Paddy reconhece a importância vital de Dolby para a concretização do resultado final. "Thomas era um miúdo com apenas 26, 27 anos, mas eu via-o como um Quincy Jones mais jovem. Imagino o que ele poderá fazer quando chegar aos 60 anos. Ele ensinou-me muito sobre o uso dos teclados. Em “Faron Young” retira um fantástico som de banjo de um Fairlight. É uma pessoa extremamente habilidosa com os arranjos. Por vezes ele sentava-se ao piano e dizia que aquele arranjo não funcionaria nas teclas e que ficaria melhor com duas guitarras. Foi de facto uma enorme aprendizagem para mim".
Além de mexer na parte instrumental, Thomas Dolby mudou o timbre da voz de McAloon nas canções. Se em Swoon parecia mais crua e áspera, no segundo disco a sua voz passou a soar menos soturna, para ficar mais alta, limpa e apaixonante.
O próprio vocalista confessa que não esperava tamanho sucesso com “When Love Breaks Down”: “Era uma bonita canção de amor, um tanto amarga, mas quando subiu aos tops fiquei sem entender o real motivo de tanto encantamento. Sim, tinha uma melodia muito feliz, mas não esperava de forma alguma que tomasse essa dimensão".

Muitas das canções do disco foram escritas ainda nos primeiros meses do grupo no final de década de 70. “As músicas que entraram no disco foram escolhidas por Thomas. Eu tinha um livro com várias delas e não sabia quais escolher, porque muitas já nem sabia quando é que tinham sido escritas. Algumas eram do tempo em que eu ainda tocava em pubs. Acabei por relegar essa tarefa para Thomas, já que para ele todas eram inéditas. Para mim compor é muito complicado porque sofro muito com os arranjos e tenho uma forte tendência para fazer coisas muito elaboradas e que acabam por ficar algo bizarras". E de facto, de bizarro pouco teve Steve McQueen. Um álbum recheado de temas fortes com uma densidade poética acima do normal, com pequenos truques e emoções escondidas por detrás de acordes menos óbvios que por vezes roçam o universo criativo do jazz (oiça-se por exemplo "Horsin' Around"). E se restarem dúvidas "Desire As" é a derradeira prova de fogo.

É indiscutivelmente um grande álbum. Um álbum que fez história e ainda vale a pena escrever sobre ele.


Prefab Sprout, Bonny

1 comment:

Mariana said...

não podia concordar mais! love it*

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