Wednesday, May 19, 2010

Cartas do Anónimo


Também queria ter usado calças boca de sino, deixado crescer a barba e não pôr tesoura na guedelha durante uns bons anos. Lutar contra o poder equívoco dos avaros e juntar a força dos meus braços à fúria da revolta. Falar entre dentes nos corredores do trabalho e deixar cartas anónimas à porta de grandes pensadores exilados nos seus cubículos camuflados, à sombra do medo. Fugir pela estrada fora da afiada vara da autoridade bastarda e esconder-me debaixo de carros a pingar óleo. Cantar baixinho as lamúrias da repressão e ir às bibliotecas procurar livros ainda não descortinados pela censura. E não falo só da imaginação. Falo da vontade que me sai do peito cheio. Cheio dos enganos repetidos e das alegrias desiguais. Das mentiras embelezadas e dos falsos valores sociais.
Eu, eu teria sido da revolução certamente. Mas agora a minha revolução é outra...

Broken Social Scene, World Sick

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