Wednesday, December 9, 2009

Been There, Done That


Super Bock em Stock, 4 Dezembro 2009, Av. Liberdade

Estava fresquinho e o trânsito de carros e pessoas era denso na avenida dos grandes acontecimentos. O São jorge é quartel general e onde trocámos o bilhete por um kit onde não faltava mapa, horário, impermeável e a pulseira livre trânsito para o mais importante , os concertos.
A primeira banda da noite foram os Wild Beasts que encheram a Sala 1 do São Jorge. Com direito a lugar de primeira fila ficámos encantados com estas bestas que não sendo novatos nestas andanças, são mais teatrais que banda de rock. Tocaram para os nossos olhos essencialmente músicas do segundo álbum “Two Dancers”. Mas não faltou a emblemática “Brave Bulging Buoyant Clairvoyants” com o seu espírito muito pantomineiro, presente no primeiro trabalho de originais. Ficámos com a perfeita sensação de que os presentes estavam completamente rendidos à exuberância dramática destes senhores. Nós não fomos excepção. É de gabar igualmente a elevada qualidade técnica com que esta banda reproduziu os temas ao vivo.

Wild Beasts, All the King’s Men


Pouco antes de terminar os Wild Beasts tivemos que abandonar a sala e rumar ao Maxime para espreitar os Wave Machines. Directamente da terra dos Beatles surpreendem pela diversidade de estilos que percorrem. Ora funk aflorado por um falsete de fazer inveja aos Scissor Sisters, ora um rock mais soft sem grande vida mas de sonoridade intensa. Alguma interacção dos membros da banda permite que o vocalista passe a teclista e o guitrrista a vocalista. A estreia deste ingleses correu bem e prometem voltar. No fim do concerto lá estavam todos a vender e autografar álbuns, moda que tem pegado nos últimos tempos. Marcas dos tempos modernos!

Wave Machines, The Greatest Escape We Ever Made



Quarto de hora para voltar ao São Jorge de novo para conhecer os texanos Voxtrot. Sala cheia para os receber e a empatia e boa disposição foram evidentes desde o primeiro minuto. A banda animou e prendeu o público às canções orelhudas e a um pop rock ligeiro. O anfitrião, Ramesh Srivastava, o amigo americano da Radar, estava como se estivesse em casa, um completo à vontade e nem os feedbacks persistentes o envergonharam. Apresentaram as canções novas do álbum que está prestes a sair e conseguiram levantar a multidão das cadeiras. Não sendo extraordinários, ganham pela boa disposição e simpatia. No fim até tivemos direito a dois dedos de conversa com o vocalista!

Voxtrot, Firecracker


Enquanto os Voxtrot davam o seu contributo, a equipa do Xukebox decidiu por consenso dividir esforços e correr para a companhia dos Blacklist. Aquartelados no Cabaret Maxime, trajados a rigor de negro e com sinais sub-reptícios de ateísmo, a formação de Brooklyn começou por actuar para meia dúzia de fiéis. Pouco depois o espaço ia enchendo ao mesmo tempo que a sonoridade se aproximava cada vez mais do gótico a fazer lembrar os ancestrais Mission ou o arranque dos Cult. Pena foi a sala não estar preparada para receber, tal como disse o vocalista Josh Strawn, uma “loud rock band”. Com um limitador de potência muito sensível, a actuação dos Blacklist foi interrompida algumas vezes. Facto que não agradou ao conjunto e tão pouco aos espectadores. Enfim, pormenores que para o ano serão concerteza corrigidos (assim esperamos).

Blacklist, Flight Of The Demoiselles


A noite já ia longa e a ideia era dar um salto para ver os Easyway e depois ainda apanhar os Orelha Negra. Acontece que o pit stop na Sala 2 do São Jorge para ver os portugueses que acabam de lançar o álbum e filme Laudamus Vita, foi bem mais longa do que o previsto. A razão é simples: o filme que acompanha todo o concerto, feito à medida das canções do grupo, prende qualquer um. A história desenrola-se ao ritmo da música, é baseada nas letras das canções e o reultado é um concerto fluído, com banda sonora ao vivo. Um luxo. O ponto negativo vai para o pouco contacto com o público. É inexistente. Mas nem por isso deixa de ser uma grande ideia para envolver o público com a banda e com a música. E por isso estão de parabéns! Orelha Negra, vão ter que dar outro concerto em breve porque não consegui deixar o filme dos Easyway a meio!

Easyway, The Viewer


Ainda houve tempo e coragem (muita coragem) para dar um salto ao parque de estacionamento do Marquês Pombal só para ver o que passava. Marcelinho da Lua massacrava os presentes com um set horribilis de funk-drum-n-bass. Impossível ficar. Adeus.

Alguns ficaram por ver, mas outras oportunidades haverão. Ebony Bones já me tinha sido apresentados no Sudoeste e não é, de todo, o meu género. Tigerman, we’ll meet again, I am sure.

Super Bock em Stock, 4 Dezembro 2009, Av. Liberdade

A primeria abordagem da noite foi ao Maxime para conhecer Mocky mas a enchente não permitiu ver, nem sequer ouvir o multi-instrumentalista canadiano. A barulheira sobrepunha-se à música por isso não havia muito para fazer ali. Saimos e fomos aos Golpes. E fomos literalmente golpeados com a alma irreverente dos guerreiros do Jardim da Estrela. Empunhando guitarras feitas espadas acompanhados por uma marcha rítmica epopeica da bateria, Os Golpes encheram a sala 1 do São Jorge de emoção 100% lusitana, com as suas letras telúricas e adereços a fazer lembrar o tempo das cruzadas. O momento alto do concerto viveu-se quando de rompante entrou em cena o quarteto feminino de percussão Caixas Furiosas. O palco incendiou-se de convicção e o publico entoava “O Silêncio” com o coração aberto. Promissor.

Os Golpes, A Marcha dos Golpes


Corridinha até ao Tivoli para apanhar os Beach House no princípio. A decepção do festival... Música pouco ritmada e a falta de feeling marcaram um concerto chato, sem qualquer empatia com o público e sem alma. Se a maior parte das bandas ganha nova dimesão ao vivo, os Beach House conseguiram o oposto. Mesmo a apresentação em palco era fraca... Saímos ao fim de umas quantas músicas para ir rever o Mazgani, no Maxime. A música não é muito mais alegre mas o cantor tem carisma e o som é agradável para beber um copo descontraidamente com os amigos.

Beach House, Master of None


Mazgani, Somewhere Beneath this Sky


Ao mesmo tempo que Mazgani cantava, o trio londrino The Invisible brindava a plateia do São Jorge com um espectáculo alucinante. Envoltos numa atmosfera muito experimentalista, visivelmente instigados pelo calor humano do público lisboeta, o tema que supostamente deveria falar de uma rapariga londrina falou antes duma “Lisbon Girl”. Foi a forma material que a banda encontrou para prestar homenagem à cidade que tanto lhes agradou e à audiência que corroborou a sua excelente prestação. Sessenta minutos de um rock muito autêntico. O Xukebox ainda desafiou o vocalista e o baterista a aparecerem na festa de desfecho na garagem do Marquês mas as obrigações foram mais fortes. Às 8 da manhã de domingo o grupo rumava já em direcção à terra natal para mais concertos.

The Invisible, London Girl


Volta ao Tivoli para o momento cool da noite. Sala à pinha para receber os Little Joy que também são um bocadinho portugueses, por terem “nascido” à beira Tejo. A história foi relembrada e, parecendo que não, joga muito a favor da proximidade e do efeito “carinho”. Por momentos esquecemos que estamos em Dezembro e que o país estava, naquela noite, em alerta amarelo, para nos refugiarmos algures perdidos num fim de tarde veraneante, quando o sol já não queima, só aquece. Música refrescante e descontraída num ambiente muito saudável. O fim chegou rápido e a corrida para o São Jorge urgia.

Little Joy, Next Time Around


As portas já estavam fechadas, a sala a abarrotar. Lá conseguimos entrar por outro lado e sentados no corredor assistimos à revelação do festival. Se imaginam um Patrick Watson calminho que se contenta com um piano, enganam-se. Um verdadeiro entertainer. Tudo bom. Desde a simpatia do cantor, o alinhamento até ao excelente trabalho do técnico de luz, tudo ajudava a criar um ambiente quase mágico . Nem as constantes falhas de som atrapalharam, antes pelo contráro, aguçaram a capacidade de improvisação de Watson e dos restantes membros da banda. Wooden Arms, o novo single, foi apresentado em sessão acústica e com um megafone a fazer as vezes do microfone. Pode dizer-se que Patrick Watson surpreendeu e apaixonou o público português.

Patrick Watson, Big Bird in a Small Cage


E os concertos chegaram ao fim:( Rumámos ao Marquês de Pombal para descobrir curas para as maleitas com o Dr. Ramos nos comandos da mesa de mistura. Digamos que a expectativa era outra. Em vez de um set de rock indie-alternativo, como calculámos, deparamo-nos com um set mais electrónico não tão aliciante. Salvou-se o fim do set, quando Ramesh (dos Voxtrot) se juntou ao DJ e o som melhorou. O mesmo idem idem aspas aspas para Zé Pedro, versão DJ. A última coisa que esperávamos era um set electrónico. Mas assim foi. Redimiu-se na última meia hora de set com uma incursão a alguns clássicos do rock e grunge.

Nota positiva para esta iniciativa que permite assistir a bons concertos em várias salas de bandas de pequena dimensão. O ambiente que se cria no festival é muito giro, onde os artistas são também espectadores e são nossos “colegas do lado”. Há uma grande troca de opiniões pelos corredores e a caminho do próximo concerto. Há falhas técnicas que até podiam ser evitadas mas ajudam a criar o ambiente “cosy” e quase amador, no bom sentido. E sabe muito bem ver vida, ali no meio de Lisboa.

Até para o ano!

(texto escrito em conjunto por Mariana e Anónimo)

1 comment:

Francisco said...

é curioso, achei exactamente o oposto em relação a beach house e voxtrot. Voxtrot simpáticos-insonsos e com muito pouca presença de palco. Beach House, contagiante e achei bastante fiel à qualidade sonora das gravações.

enfim, acho que a mitologia que cada um poe na cabeça relativamente às "suas" bandas influencia muito a experiencia que é estar num concerto.

Em todo o caso, grande SBES!

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